Você já teve um sonho?
Você alguma vez já criou uma história na sua cabeça antes de dormir?
Você alguma vez já fez planos para o que queria do futuro?
Eu já. Eu fiz isso a minha vida inteira.
Desde criança, eu não lembro exatamente quantos anos eu tinha, eu tinha o sonho de vir aos Estados Unidos e visitar o lugar onde os filmes são feitos.
Nos meus sonhos de criança eu sempre imaginei que a vida seria melhor onde os filmes são feitos porque no final dos filmes tudo dá certo, né?
A vida real é difícil. Quando fica difícil não é como nos filmes que duas horas depois dá tudo certo.
Na minha imaginação sempre que eu desenhava a vida perfeita ela se passava no meio das palmeiras da Califórnia.
Eu cresci e mantive o mesmo sonho. Queria ir para Califórnia. “Um dia”, eu dizia para mim mesma. Um dia vai acontecer.
Na adolescência eu não tinha dinheiro para uma viagem dessa, meus pais não podiam pagar uma viagem para os Estados Unidos. Eu fiquei frustrada. Parecia que todos conseguiram ir, menos eu. Mas eu ainda tinha esperança, “Um dia” eu repetia para mim mesma.
Quando eu sai de casa para faculdade eu comecei a juntar dinheiro para quem sabe o dia chegar. Mais ou menos no meu terceiro ano da faculdade meu avô disse que me ajudaria a pagar as despesas do intercâmbio, eu fiquei feliz demais. “Um dia” parecia mais perto agora. Eu visitei agências de intercâmbio, li blogs na internet, eu estava pronta e iria para Califórnia. Mas infelizmente por contratempos e imprevistos da vida meu avô não pode me ajudar e então o intercâmbio não aconteceu naquele ano.
Foi aqui que eu desisti.
Eu disse para mim mesma que eu deveria parar de sonhar com a ideia de ir para os Estados Unidos. Eu disse para mim mesma que não iria acontecer, desista da ideia. E eu desisti. Era o fim de sonhar com morar nos Estados Unidos.
A vida ficou mais difícil naquele ano.
Eu fui diagnosticada com Lupus. Eu me lembro exatamente de estar sentada na frente do médico enquanto ele olhava meus exames e a feição dele mudar. Para citar algumas da emoções que eu senti: medo, tristeza e desespero. Eu pensei, e agora? E agora?
O médico que fez o primeiro diagnóstico me encaminhou para outra médica e pediu mais exames. E o engraçado é que a médica reumatologista disse para mim enquanto olhava meus exames que um dos meus problemas é que eu sofria por dentro sozinha. Ela me disse que eu precisava aprender a me abrir e conversar. Não falar estava me deixando doente.
Naquela época se você perguntar para as pessoas que conviviam comigo talvez eles dissessem que eu era uma pessoa engraçada mas também muito estressada. A Carol daquela época não falava sobre os seus problemas ou o que deixava ela triste. Ela simplesmente seguia com as coisas. A Carol daquela época criou paredes e barreiras entre ela e as pessoas.
Mas quando o diagnostico Lupus apareceu eu fiquei tão assustada que quando a médica disse para eu me abrir eu fiz o melhor que podia. Eu chorei e conversei com as pessoas da minha família, disse para todos eles como eu estava infeliz. Eu perdi algumas amizades. O relacionamento com o meu irmão melhorou. O meu relacionamento com Deus se fortaleceu.
Meu pastor Renato e sua esposa Aline me ajudaram muito na época e eu finalmente comecei a vida diferente e Deus mais próximo de mim. A Aline sempre me disse para lembrar que as misericórdias do Senhor se renovam todos os dias e até hoje eu me lembro que a cada dia basta seu próprio mal. O Renato me disse que eu era uma tartaruga, todo mundo só conhecia a minha casca e que a Carol de verdade tava escondida dentro morrendo de medo. Durante aquele período Deus abriu meus olhos para muitas coisas e no final do processo eles descobriram que eu não tinha Lupus mas caramba o que aqueles meses me ensinaram sobre confiar em Deus. Eu mudei e meus relacionamentos mudaram e eu sou muito grata por ter passado por isso.
A vida continuou. Eu terminei a faculdade. Eu terminei meu MBA.
Depois disso eu estava meio perdida, a pessoa que escolheu aquela graduação aos 17 anos não existia mais, eu já não queria mais as coisas que eu queria aos 17 anos. Eu sentia saudade de “casa”. Então, eu voltei. Eu não fazia ideia com o que eu ia trabalhar mas pelo menos eu estaria em casa.
Meu irmão me disse que eu deveria passar um ano fora, nos Estados Unidos. Eu disse para ele que não que aquele não era meu sonho mais. O desejo tinha morrido.
Naquele ano de muita confusão e não saber o que fazer, eu estava triste por diversas razões. Eu orei por força, para que Deus me guiasse e para que Ele me mostrasse o próximo passo.
E enquanto eu orava por orientação eu recebi uma ligação. A pergunta era se eu estava interessada em ser professora de inglês. Eu estava perdida então o mínimo que eu podia fazer era tentar. O que me surpreendeu muito foi que eu amei a experiência. Eu amei dar aula. Eu amei ser professora. Eu até pensei que podia fazer isso pro resto da vida. Nesta época de tristeza e desorientação dar aulas me deu uma nova esperança, eu tive esperança que as coisas fossem melhorar.
E nesse tempo todo eu sempre fiz uma oração que dizia: “Deus me ensina a te amar mais que todas as coisas”.
A vida ficou mais difícil de novo.
Um dos anos mais difíceis da minha vida começou.
Relacionamentos que eram muito importantes para mim acabaram. Eu tive o coração partido por pessoas que eu confiava.
Eu voltei a me esconder. Eu estava devastada. Eu não confiava mais nas pessoas.
Eu me liguei em ficar por perto do meu irmão e eu confiei nele.
Aí alguns meses se passam e o João tem que ir embora. Pois é, outras circunstâncias da vida fizeram com que o João tivesse que se mudar. Eu ainda consigo me lembrar dos detalhes de quando ele chegou em casa para dizer que ele não iria mais ficar em Tupã e que ele encontraria uma igreja nova. A gente não sabia onde, nem quando, muito menos como.
Eu me lembro de pensar: Por que o João Deus? Não com ele. Por favor. Ele não.
A vida ficou mais difícil.
Eu sai de casa e fui dirigir, chorar e orar.
Várias coisas passavam pela minha cabeça como: Eu não posso confiar em ninguém, as pessoas machucam demais. E perguntei para Deus: E agora? Como vai ser agora? E Ele me disse: Confia em Mim.
Meu irmão me disse: Misericórdia, Carol. Misericórdia.
Minha vontade era fazer a vontade de Deus mesmo quando o meu coração doía. Eu disse para mim mesma que eu obedeceria em meio às lágrimas e que eu contaria que Deus iria me segurar. E Ele cuidaria da situação do meu irmão.
Nessa época a ideia do intercambio não parecia mais tão ruim. O João vai embora, eu também posso ir.
O João e a Thais foram comigo até a agência de intercâmbio e apesar de eu ainda estar insegura com a ideia talvez eu pudesse voltar a sonhar com os Estados Unidos de novo.
Eu tinha dois medos: que o intercâmbio desse certo e também que não desse certo. Eu tinha medo de sofrer mais. Eu queria controlar a quantidade de sofrimento que eu teria. Loucura né?
A vida seguiu.
No culto de despedida do meu irmão, eu que já tinha chorado muito recebo uma ligação da minha tia Rosângela que não liga com tanta frequência a não ser que…
Minha mãe estava no hospital. Eles achavam que ela tinha sofrido um infarto.
Não, não, não Deus, minha mãe não. Por favor, não.
Foi um mês muito difícil e desafiador. Minha mãe precisou fazer uma cirurgia no coração. Um dos médicos disse que o coração dela estava ruim, muito ruim. Talvez ela não sobrevivesse.
Eu senti meu coração se partir novamente.
Eu tinha uma certeza: Deus estava me ensinando algo naquele ano. Eu ainda não tinha certeza o que exatamente, mas Ele estava nos ensinando algo, a mim e a minha família. Eu dizia para todo mundo, Deus está trabalhando em nós agora.
Eu que era uma pessoa pessimista comecei a imaginar a vida sem a minha mãe, eu não queria chorar o tempo todo então eu repetia para mim mesma que Deus estava me ensinando algo. Durante esse período a música Tua Paz virou meu calmante. A música diz:
"Insondáveis são os teus caminhos, Senhor
Tu sondas o meu coração e conheces o meu temor
Incontáveis são os teus sonhos e planos pra mim
Contas em tuas mãos todos os meus dias, Senhor
E a tua paz repousou aqui no meu peito
E eu então abracei
E me lembrei que sempre fazes tudo perfeito
E o coração descansei
Tu sabes, tu podes
E eu descanso”
Eu cantava para mim mesma que se Deus faz tudo perfeito então eu podia descansar.
A minha mãe sobreviveu e apesar da recuperação ter sido um processo difícil eu não tava nem aí, ela tinha sobrevivido e era isso que importava. Durante o período de recuperação dela o meu pai teve que ser internado no hospital por duas semanas com um problema na perna. O João e a Thais tiveram que viajar para continuar a busca por uma nova igreja.
E naquele momento que eu podia me sentir tão sozinha Deus me mandou pessoas de todos os lugares. Pessoas que nos ajudaram trazendo comida, lavando roupa, ajudando minha mãe com os exercícios dela e até mesmo a levando ao médico quando eu tinha que trabalhar. Minhas amigas que também apareceram até para me ajudar a limpar a casa.
No meu aniversário daquele ano enquanto tudo isso acontecia eu ganhei uma festa surpresa, uma camiseta do Corinthians e uma cama nova que minha mãe tinha comprado de presente chegaram de surpresa naquele dia. E quando eu cheguei do trabalho no meu aniversário minha amiga Barbara estava na minha casa me esperando com lasanha (minha comida favorita). Mesmo quando a vida parecia estar desmoronando Deus estava cuidando de mim.
E no meio de tudo isso o João disse para mim: Carol, não desista do intercâmbio. Os nossos pais vão ficar bem. Você ainda tem que ir para os Estados Unidos. Por favor, ligue na agência e feche o intercâmbio. Você não está abandonando ninguém, você pode ir. Eles vão ficar bem.
Eu deveria ir? Eu orei e pensei muito. Então eu decidi ligar para a agência e começar o processo de intercâmbio.
Meus pais se recuperaram.
O João recebeu propostas de algumas igrejas.
A vida estava voltando a se encaixar.
Mas ainda assim eu tinha medo.
Eu confiei nas palavras do meu irmão. E eu confiava em Deus.
Eu iria. Eu disse para mim mesma que se o ano de intercâmbio fosse ruim era só um ano e Deus continuaria me ensinando em tempos difíceis.
O processo para vir para os Estados Unidos demorou mais do que eu esperava mas nesse meio tempo que eu não planejei ficar eu tive a oportunidade de ajudar o meu irmão na mudança, eu vi ele encontrar seu novo lugar e ele ficaria bem. Eu tive a oportunidade de passar mais tempo com os meus pais e celebrar a vida deles. Eu viajei. Eu passei tempo de qualidade com os meus amigos. Eu me senti amada. E quando as coisas do intercâmbio finalmente deram certo eu não iria para Califórnia e sim para Nova Iorque. O que não era ruim né gente?
Eu ainda estava com medo, mas não tanto quanto antes. Deus me guiaria.
E bem aqui poderia ser o momento que eu diria e então a vida ficou mais difícil, mas se você já leu qualquer um dos meus posts anteriores você vai saber que a vida ficou melhor. Eu cheguei aqui e meu relacionamento com Deus mudou tão impressionantemente para melhor que é difícil explicar com palavras. Deus cuidou de cada detalhe. Eu senti o Seu amor como nunca antes. Eu O senti bem aqui e enquanto eu quebrava minhas próprias barreiras eu senti Deus mais próximo de mim.
A graça, acho que eu não entendia ela tão bem e então eu cheguei aqui e comecei a vê-la de tantas maneiras.
E então enquanto estou aqui na Califórnia em meio as palmeiras que eu sempre sonhei eu lembro da minha oração: “Deus, me ajuda a Te amar mais que todas as coisas.”
Ele estava me ensinando algo. Ele ainda está me ensinando muitas coisas e Ele me ensinará para o resto da vida. Mas agora eu entendo, eu entendo o meu processo até chegar aqui. Eu entendo as minhas lágrimas e eu vejo como as misericórdias se renovaram todos os dias e continuam se renovando e sempre se renovarão.
Então eu olho para Deus e O vejo em cada passo do caminho. Nos tempos bons e nos difíceis.
E agora eu posso dizer que eu amo minha família, eu amo meus amigos, eu amo a minha igreja em Tupã, eu amava ser professora e eu amava o conforto e segurança que a vida lá me passava, mas Deus eu Te amo mais que todas as coisas. Mais que os meus sonhos e planos. Você primeiro Deus e todo o resto vem depois. O Criador e não a criação.
Mano eu amava minha “casa” com todo o meu coração, mas eu finalmente entendi que casa é onde Deus está e Deus está em todo o lugar.
Então para Carol do passado e para você que está lendo, o meu sonho se tornou realidade de uma maneira bem melhor do que eu imaginei. Eu não poderia ter sonhado com isso. Foi muito mais do que eu podia pedir ou imaginar porque Deus é assim, Ele faz muito mais.
E o que Deus tem me ensinado é que não importa onde a vida me leve ou que novos desafios ela traga, eu sei que estou sempre em casa.
Amo ver Deus te abençoando tanto.. com as coisas mais legais que você esperava...