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Foto do escritorAna Carolina Urel

Eu não sou daqui...

Atualizado: 1 de jul. de 2024

A primeira vez que eu vim para os Estados Unidos em 2018 apesar do medo do desconhecido eu estava muito animada. Eu estava indo para uma aventura a qual eu esperei a vida inteira.

Já em 2023 eu não me senti assim. Deixar o Brasil representava algo diferente que da última vez. Era como se eu estivesse aceitando um para sempre que eu não estava preparada para aceitar. Não era uma estação. Parecia como se eu estivesse aceitando a sentença da minha vida. Você mora nos Estados Unidos agora. É isso que você é. Era aceitar que para sempre teria saudade da minha família.


Logo que voltamos e o Chris começou a trabalhar, foi ainda mais difícil. A academia de bombeiros demandava muito do tempo, do físico e das emoções dele. Eu ficava em casa e dentro da nossa situação atual morando em um apartamento no porão. Eu que já não era a maior entusiasta com a nossa volta fui ficando ainda mais deprimida. A gente morava longe de quase tudo que eu conhecia, a maior parte dos amigos que eu fiz durante o meu intercâmbio não estava mais aqui e eu vivi uma grande estação de solidão. Não ajudou também que eu tive deficiência de B12, mas tudo parecia sem cor e triste. Eu já tinha vindo do Brasil meio capenga, mas parecia que as coisas na minha cabeça só tendiam a piorar.

Ficava com raiva toda vez que alguém queria me obrigar a seguir culturas americanas como se o meu lado brasileiro tivesse que morrer só porque eu estava aqui.


Eu estava socializando muito pouco com outras pessoas e sem uma comunidade. Tinha muito tempo para pensar e isso abre uma grande porta para auto comiseração. Não ajudou que a gente não tinha achado uma igreja ainda.

Senão ficou claro ainda, eu estava triste, eu não tinha aceitado a minha volta. Acho que com tudo isso uma grande vontade de abraçar a minha cultura que talvez antes não fosse tão importante para mim tomou conta da minha mente.

Eu queria amigos brasileiros, eu queria falar português, eu queria que as pessoas respeitassem a diferença de cultura e não tentassem me encaixar na caixa americana. Porque nós sabemos que as pessoas têm dificuldade com o diferente, porque o diferente dá trabalho e talvez eles só queriam que eu fosse igual. Isso só aumentava a minha vontade de mostrar mais fortemente que eu não era daqui.

Nesse cabo de guerra que existia na minha cabeça entra a cultura americana e a brasileira parecia que eu só estava perdendo.

E a cada dia ficava mais sozinha na luta que na verdade só eu estava lutando.

Era como se na minha cabeça eu deixasse a parte brasileira desaparecer eu também desapareceria, minha família desapareceria e como no filme Vingadores Guerra Infinita as coisas pareciam sumir na minha cabeça. Aí você pode pensar, nossa Carol que drama, aí eu vou te dizer eu sei que faz tempo, mas uma coisa que vocês já deviam saber sobre mim é que eu dramatizo bastante a vida.

Os meses foram passando e as coisas não pareciam melhorar. Eu não queria aceitar a perda, mas ela parecia cada vez mais eminente.

Porém, eu estava disposta, cair e levantar.


A sensação de solidão não parecia passar, só aumentar. Era como se eu precisasse caçar amigos por aí. Logo eu que nunca fui boa nisso.

Nós tínhamos um plano para mudarmos de casa dois meses depois que o Chris terminasse a academia e eu iria para o Brasil em Outubro, essas eram coisas que me ajudavam a pensar sobre o futuro. Aguenta mais um pouco que o alívio vai vir. Uma coisa eu sei é que se a situação não muda Deus me molda dentro dela. Por diversas vezes eu me perguntei se era a coisa certa estar aqui e todas as vezes Deus me respondeu que sim. Que era para eu estar aqui agora. Muitas vezes ouvindo minha música favorita Deus ministrou ao meu coração com a frase “Se o vento vai para onde você manda, eu também irei.” Acontece que assim como Jonas que sabia que Deus o queria em um lugar e ainda sim foi para outro, havia uma diferença entre saber que estar aqui era o certo para estar bem com isso.


Quando fui para o Brasil em Outubro o Chris me ligou um dia dizendo que tinha achado um apartamento para nós. Quando eu cheguei a gente já tinha a perspectiva de mudar e viver no segundo andar de um prédio cheio de janelas que tinham muita luz. Eu também tomei seis injeções para suplementação de B12 que ajudaram muito na sensação de tristeza o tempo todo.


Nós mudamos em Novembro e naquele mês eu me mantive muito bem ocupada em finalmente ter minha “própria casa” (entre aspas porque a gente não é dono do apartamento, mas era a primeira vez que estávamos morando sozinhos.) Foi muito divertido finalmente poder escolher meus copos, colheres e o lugar para cada coisa. O nosso apartamento também era bem mais próximo dos lugares que eu conhecia, o acesso ao metrô era muito mais fácil também, os horários do Chris melhoraram e eu comecei a ter uma sensação maior de independência e liberdade. A luz no fim do túnel que eu não conseguia ver anteriormente apareceu. E ai dezembro chegou, o Chris quebrou a mão e estava mais em casa o que facilitou para que eu não ficasse tão sozinha.


As coisas realmente melhoraram, mas no meu coração eu ainda tinha o desejo e a vontade de achar uma comunidade e também brasileiros cristãos com os quais nós pudéssemos dividir a vida.


Em Janeiro fui ao Brasil novamente e apesar da sensação de melhora aqui foi muito difícil voltar. Eu queria mesmo é que pudéssemos voltar e ficar no Brasil. E aí quando eu voltei para os Estados Unidos não sei se por já estar cansada de não “achar" uma comunidade decidimos frequentar a igreja a qual nos conhecemos. Acho que voltei do Brasil meio pessimista, como tinha passado o ano meio sozinha, achei que essa comunidade que eu imaginava não existia e eu quis “tomar” o controle nas minhas mãos.


Enfim, meio que aceitei a derrota talvez a parte brasileira de mim desapareceria. Talvez essa parte da minha identidade que eu estava desesperada para não perder fosse sumir. E então orei em resignação, tudo bem Deus. Se o Senhor me quer aqui que eu me alegre na minha circunstância atual. Orei para que eu pudesse fazer amigos, orei para que eu me abrisse para possibilidades de comunidade que talvez não fossem as que eu queria ou imaginava, mas que eu não ficasse mas sentada lamentando o que eu não tinha.


E então Deus falou comigo.


Eu estava num culto na nossa antiga igreja e o pastor estava pregando sobre missões e plantação de igrejas. E ele falava sobre não sermos daqui.


“Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” Filipenses 3:20


A palavra "estrangeira" que tanto me incomodava nos últimos meses começou a fazer sentido. Eu não sou daqui e tudo bem. Melhor ainda é que a minha identidade não é ser brasileira também. A minha identidade está em ser filha de Deus e o meu medo desaparecer pode descansar porque eu entendo que se sou estrangeira nesse mundo eu não sou daqui ou de lá e isso não precisa me definir. A parte que importa está sempre comigo. Se eu sou estrangeira nesse mundo não necessariamente eu pertenço aqui ou ali. E isso não precisa definir quem eu sou. Talvez eu estivesse buscando nas pessoas ou em um lugar um conforto que eu só poderia alcançar em Cristo.


Na minha cabeça o Brasil era o lugar mais fácil de pertencer. O Brasil era o lugar mais fácil de estar.


Porém, se Deus me quisesse no Brasil lá eu estaria.


É muito fácil perder a visão do que é realmente importante quando só olhamos para o que não está bom aos nossos olhos. O plano de Deus é a visão dele é muito maior. Enquanto eu fiquei sentada, frustrada e focada em tudo que “eu perdi” não consegui abraçar as coisas que Deus tinha para me ensinar aqui desta vez.


Minha mente não conseguia ser grata e contente com o agora porque estava sempre contemplando outro momento. Ser lembrada de quem eu realmente sou  e que minha vida não é sobre mim me ajudou a realinhar as minhas expectativas. Não posso confiar no plano de Deus só com palavras, mas devo confiar no plano de Deus com o meu coração e gratidão de que talvez eu não esteja no lugar que eu queria, mas no lugar que Deus quer para mim.


Há muito tempo atrás quando eu comecei esse blog eu escrevi sobre como eu me sentia em casa estando nos Estados Unidos. E aqui vou citar a Carol do passado que disse: "Se eu puder te dar um conselho é: saiba que Deus é a sua casa e Ele ama você. Então, não tenha medo, você não precisa saber mais sobre o futuro, você precisa saber mais sobre Deus, porque quando você sabe quem anda com você, não importa para onde você vai.”


A Carol de 2023 perdeu um pouco do foco e distorceu a sua visão. Neste ano de volta aos Estados Unidos a preocupação nem o era o futuro era não aceitar o presente, me faltava o que a Carol do passado disse, conhecer mais de Deus. Prestar mais tempo e atenção nele e no que Ele é.


Na minha luta com o que Deus queria para mim eu tive que jogar a toalha para entender que eu precisava parar de tentar fazer tudo com as minhas próprias mãos e entender que Deus estava ali onde quer que eu estivesse. Talvez se eu gastasse menos tempo pensando no que eu perdi saindo do Brasil, Deus pudesse me mostrar o que ele tinha para mim aqui.


Neste último ano o que eu mais senti falta foi estar perto de pessoas, mas eu acredito fortemente também que eu precisava aprender uma lição valiosa que é confiar em Deus e Deus somente. É claro que Deus usa pessoas e eu tenho certeza que Ele não nos criou para vivermos sozinhos isolados em solidão, porém as pessoas não podem ser o que movimenta nossa fé, alegria e contentamento. Não posso somente louvar a Deus quando o meu barco está cheio de gente que eu gosto.


Uma das coisas que eu mais amo morando em Nova Iorque é ver as estações acontecendo e elas me ensinam muito sobre Deus. Tudo muda, menos Deus. Nesta ultima estação eu precisava aprender a realinhar a minha identidade em Cristo sem estar na minha zona de conforto. Quem eu sou não é definido por onde eu moro ou quem está a minha volta, eu não sou necessariamente de Tupã ou de Nova Iorque. Eu sou a Carol, filha amada de Deus que mora aqui hoje e está aprendendo a amar o lugar que eu estou porque é aqui que Deus quer que eu esteja.


Nos meus textos anterior eu citei diversas vezes como eu amava o Brooklyn e nesse parece que não, a verdade é que o Brooklyn não mudou, a verdade é que eu perdi o que Deus queria para mim de vista. E isso só me prova mais uma vez que se não aprendermos a termos satisfação em Cristo uma situação igual pode ser ruim porque não estamos dando honra a Deus.


Acho que este texto ficou uma verdadeira montanha russa ou talvez pareça para mim porque eu me senti em uma montanha russa esse ano. E acho que é por isso que eu não escrevi tanto nos últimos tempos. E tudo bem, nem sempre vou conseguir escrever dos altos das montanhas, depois de ter superado algo, as vezes as histórias vem dos vales enquanto eu aprendo sobre o que eu estou enfrentando agora.


Eu não sou daqui e tudo bem. Se minha casa está no céu, em todos lugares que eu estiver serei estrangeira e o que eu faço com isso? Hoje a minha oração é para que eu honre a Deus com isso. Com chuva ou sol, com calmaria ou turbulência foi aqui que aprouve o Senhor me plantar. Aprender a olhar para Cristo além das circunstancias é um processo difícil, mas fica ainda mais difícil se eu não tentar. Que nesses novos anos que virão sendo estrangeira nessa vida eu me foque no que é mais importante, a glória de Deus aonde quer que eu esteja.


E alerta de SPOILER, as vezes a vida pode mudar na fila da Dollar Tree!!!




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