Me sinto em casa...

Sexta-feira, 20 de setembro

Eu contei para os meus Host Parents sobre a garota que conheci no parque e sobre ela ter me convidado para ir à igreja. Minha Host Mom ficou super feliz porque percebeu que eu não estava muito satisfeita com as duas últimas visitas. Ela me disse que eu deveria ir e fazer alguns amigos. Mais fácil falar do que fazer. Mas eu decidi que tinha que tentar pelo menos, certo?

Eu parei de trabalhar ás 18h30 e me preparei para ir. “Katherine me disse que o culto começa ás 8, eu não quero me atrasar, mas eu também não quero estar lá super cedo e sentar como uma pessoa desajeitada que não conhece ninguém” - pensei. Eu fiquei pronta um pouco cedo demais, então decidi andar bem devagar em direção à igreja. E se você já andou comigo alguma vez, você sabe que andar devagar é um desafio para mim, mas eu queria chegar à igreja no início do culto e sair sem ser notada depois dele. Era minha primeira vez, pessoas ainda me assustam um pouco quando eu não as conheço.

Quando cheguei à igreja, diferentemente do Brasil e da minha igreja de lá, o portão estava aberto, mas as portas não. Haviam luzes acesas, mas não muitas. “Espere, será que tem culto aqui hoje?” Eu olhei para a placa na frente da igreja e supostamente sim, embora eu não tenha visto ninguém. Vi três portas e eu nem sabia por qual entrar. “Talvez eu devesse ir para casa” era o pensamento na minha cabeça.

Mas então eu me lembrei como cheguei aqui. Não foi coincidência. Decido mandar mensagem para Katherine e ver se ela estava lá dentro mas nada, nenhuma resposta. Então resolvo que vou para casa, assim eu posso dizer que pelo menos eu tentei. Antes de ir embora,  fiz uma última tentativa e orei: “Deus, se for realmente a sua vontade que eu entre nesta igreja esta noite, nos próximos cinco minutos alguém virá e entrará em uma dessas portas e eu saberei o que fazer.”

Eu já estava nervosa.

O tempo passando porém alguns minutos depois eu vejo alguém chegar à igreja e entrar.

Eu ainda debati mentalmente se deveria entrar ou não. Mas disse a mim mesma: Vamos Carol, Deus acabou de responder sua oração, você não pode decepcioná-lo.

Então eu entrei.

Entrei pela porta e vi alguns adolescentes no hall. Perguntei para eles  se o culto de jovens era ali mesmo e um deles apontou para o andar superior. Subi as escadas nervosa, eu não sei porque eu estava me sentindo tão estranha nesta situação, mas eu estava.

Quando entrei no salão de culto, Katherine me viu do palco e começou a gritar: VOCÊ VEIO!

Deu bem certo a ideia de não ser notada, viu? Ela me cumprimentou e disse que queria me apresentar a alguns amigos e eu disse ok... Bem, eu meio que não tinha outra escolha. Ela me apresentou aos amigos que eram basicamente TODAS AS PESSOAS DA IGREJA. Sério. Eu estava tentando ser discreta e acabei conhecendo metade da igreja. Ela me apresentou como Carol, sua amiga do Brasil, sem mencionar nenhuma vez que nos conhecíamos há apenas DOIS DIAS!

O culto começou. Estou sentada sozinha, tentando ser o mais discreta possível. Katherine, que está cantando no palco, no entanto, tem uma ideia diferente. Lá da frente, no microfone, ela diz para todo mundo: “Ei pessoal, gritem para minha amiga Carol do Brasil, ela está ali! Levante-se Carol, estamos muito felizes em ter você aqui hoje!”

Este é o exato momento em que eu quis morrer. Se eu pudesse cavar um buraco no chão e me jogar dentro dele, eu o faria. Se eu pudesse correr, eu o faria. Eu até pensei em fingir um desmaio, mas isso seria pior. Eu estava morrendo de vergonha enquanto me levantava e desajeitadamente acenava para as pessoas.

“Isso é ótimo, isso é incrível. Aposto que todo mundo está pensando quem é esse menina esquisita aqui. Caramba” - pensei comigo mesma. 

O culto foi legal. Eu conhecia algumas músicas. Eu não me lembro quem pregou ou o que foi pregado, mas acho que eu gostei. Não me lembro. Katherine me matou com a coisa de ficar em pé. Lembro-me de que eles estavam anunciando um evento de Colheita de Maçã que parecia ser legal. Todos esses jovens cristãos fazendo coisas juntos, parecia bom. Algo que eu já havia feito antes. (Não a parte da Colheita de Maçãs, eu nunca fiz isso no Brasil.)

O culto terminou.

Esperei pela Katherine. Ela foi tão legal que eu queria dizer tchau para ela. Mas eles serviram comida após o culto, então ela não me deixou ir embora. Katherine me convenceu que eu deveria ficar e, bem, o que de pior poderia acontecer? Fiquei.

Katherine e eu pegamos comida. Ela me apresentou a mais amigos... Sério, senti que tinha conhecido TODO MUNDO! Não tem como ser discreto perto da Katherine. Nós nos sentamos em uma mesa com um de seus amigos. Eles começaram a conversar e eu me concentrei em comer minha comida, assim não precisaria falar. “Cara, esta comida é picante! POR QUÊ? POR QUE TODA COMIDA NA AMÉRICA TÊM DE SER PICANTE?” Mas eu mantive minha cara de “ah, beleza”. O amigo dela me perguntou se eu estava tendo problemas para entendê-los porque não estava falando muito. Eu disse a ele que estava bem e que estava apenas focando em comer. Qual era o nome dele mesmo? Eu não tinha ideia, tinha acabado de conhecer 300 pessoas com nomes americanos, colombianos e venezuelanos. Eu me lembrava de Katherine, e só.

Os dois começaram a fazer algumas piadas, das quais não ri, e fizeram ainda mais piadas por achar que eu não estava entendo. “Uau, essas pessoas! Vou deixar que pensem que meu inglês é ruim assim, vamos ver até onde vai. Assim eu posso ficar só na escuta enquanto eles falam.”

Saímos do salão de confraternização e fiquei com a Katherine. Todo mundo estava lá fora conversando. Eu "falei" com mais algumas pessoas e alguém ofereceu uma carona para Katherine, que, então, me ofereceu uma carona também. Eu obviamente disse que não. Gente, todos eles parecem muito legais e amigáveis, mas eu tinha acabado de conhecer todas aquelas pessoas. Não iria aceitar carona de estranhos. Disse à Katherine que estava bem, que morava perto e que ela não precisava se preocupar. Ela tentou me convencer da carona e quando percebeu que eu não iria ceder, ela disse que ia andando comigo. “Oh uau”, ela era muito legal. Isso era estranho.

Não me lembro muito do que ela disse quando estávamos voltando para casa, mas uma coisa que me marcou foi ela dizer se eu precisasse de algo, qualquer coisa, como oração, dinheiro, comida, roupas ou apenas alguém para conversar, eu poderia falar com ela pois ela estava disposta a me ajudar. Eu achei incrível. Katherine Class tinha acabado de me conhecer e estava sendo demais. Fiquei até desconfiada. Quando nos despedimos, ela me disse que me esperaria no segundo culto de domingo. Depois de toda essa simpatia, o mínimo que eu poderia fazer seria voltar.

Eu não estava convencida com a igreja ainda.  A principal razão era simplesmente porque era uma igreja bem diferente da minha igreja no Brasil.

Quando cheguei em casa e falei com meu irmão, contei a ele toda a minha experiência na igreja. Disse a ele que não sabia se voltaria ou não. Mas ele me disse que eu deveria voltar. Citando-o aqui: "Faça mais algumas tentativas. Essas pessoas foram muito legais com você. Você não encontra pessoas com tanto amor assim em todos os lugares, nem mesmo em nossas igrejas aqui no Brasil. Vá para o culto no domingo e falamos mais sobre isso depois”.

Bem, ele tinha um bom argumento. “Vou voltar no próximo domingo” - decidi. 

Domingo 22 de setembro

“Hoje tem mais gente na igreja, então é mais fácil passar sem ser notada - pensei”. Vi a Katherine, nós conversamos e foi legal. Ela me apresentou a mais pessoas.

Millie Mercado estava pregando neste dia e ela falou sobre servir. Eu não me lembro de tudo, mas lembro de uma de suas histórias sobre quando começou a trabalhar na igreja. O ponto principal foi que seu trabalho era cuidar dos banheiros. Porém ela queria mais, ou um trabalho diferente, só que acabou decidindo que faria o melhor no trabalho que ela tinha recebido e que aqueles seriam os banheiros mais lindos que as pessoas já tinham visto, porque ela estava fazendo aquilo para Deus e para Ele nós damos o nosso melhor. Lembro de ouvir a história e pensar sobre o meu próprio trabalho. Apesar de ser muito difícil às vezes, deveria me lembrar que sirvo não apenas a pessoas, mas a Deus em tudo que faço.

Depois do culto, eu disse a Katherine que tinha que ir, mas alguns de seus amigos disseram que eu deveria ficar e socializar um pouco. Ainda não tinha certeza sobre fazer isso, então fui para casa.

Sexta-feira, 28 de setembro

Katherine me mandou uma mensagem dizendo que ela não iria ao culto naquela noite, mas disse que eu deveria ir de qualquer maneira. Ela não poderia ir, mas eu deveria.

Eu não tinha certeza. Sem a Katherine ficaria ainda mais difícil. Ela não é discreta, mas ela é muito legal e estava tentando me ajudar.  Realmente era muito bom que ela estava fazendo, me dando oportunidades reais de conhecer e me conectar com as pessoas daqui. Se não fosse por ela, eu provavelmente entraria e sairia sem falar com ninguém.

Já que eu tinha pedido para meus Host Parents me darem todas as noites de sexta-feira livres para que eu pudesse ir no culto desta nova igreja, seria uma vergonha desistir na segunda tentativa, certo? Então, mesmo com um pouco de medo, tinha que tentar. Além disso, meu irmão disse que eu tinha que ir. Ele não me deixaria desistir.

Você pode estar se perguntando agora porque eu estava com medo... Sim, é é apenas um culto! Mas eu fico muito ansiosa com interações sociais quando não conheço ninguém. Já te falei que não sou boa nos primeiros encontros? Talvez, nem mesmo nos segundos... É apenas estranho para mim.

Eu iria ao culto, então precisava orar sobre isso. 

“Deus, estou um pouco nervosa por ir sozinha na igreja hoje. Eu quero fazer sua vontade. E eu quero descobrir onde o Senhor quer que eu fique. Ainda não tenho certeza.

Então, se houver alguma maneira, por favor me ajude lá. Ajude-me a falar com as pessoas mesmo que não me sinta confortável. E se alguém me convidar para a coisa da Colheita de Maçã hoje eu vou entender como um sinal para eu ir. E eu vou.”

Sexta-feira, 28 de setembro, 20h

Eu estava lá novamente. Sentada sozinha.

Eles têm umas mil maneiras diferentes de cumprimentar as pessoas aqui, eu nunca sei se devo abraçar, apertar as mãos, dar high five ou outra coisa, mas eu consegui chegar até o louvor.

Juan estava pregando nesta noite.

Ele prega sobre que mesmo em tempos difíceis devemos nos lembrar que nossa alegria, nosso conforto e nosso descanso estão em Cristo. Que Ele é um bom Pai e Ele está cuidando de nós. Que temos que encontrar nossa felicidade nEle, não nas coisas, não nas circunstâncias.

Arrasou Juan! É exatamente isso! Eu amei isso! Estudar contentamento era uma das minhas coisas favoritas no Brasil, então eu achei incrível.

Quando o culto termina, eu tenho uma oração respondida vindo em minha direção. Deus respondeu minha oração através de Maria Cepeda. Ela quando vem falar comigo foi super legal e doce. Eu senti muito bem-vinda. E adivinha? Ela me convidou para ir para a coisa da Colheita de Maçãs. Ela até foi para a pessoa que estava organizando o evento e dá meu nome. Nós trocamos números de celular e ela me pede para mandar uma mensagem para que ela saiba que cheguei em casa em segurança.

Todo mundo foi tão acolhedor!

Uau, essas pessoas aqui são muito legais. É estranho. Eles foram tão gentis comigo. Eu não entendia. Eles nem me conheciam.

(Hey Carol do passado! Carol do futuro falando aqui por um segundo. Sim, eles não te conheciam. E não, eles não estavam sendo apenas educados. Eles não te conheciam, mas eles conhecem a Jesus e isso é suficiente para eles e isso é amor e graça. Eles receberam e agora estão compartilhando com você. Mas relaxe, você tem um longo caminho na sua frente para aprender sobre isso. Eu não vou te dar nenhum spoiler.)

Eu cheguei em casa feliz. Deus está no controle. Ele estava me mostrando Seu amor em detalhes, Ele cuidou de cada um deles. Ele não queria que eu me sentisse sozinha porque não estava. E ele colocou pessoas no meu caminho para me mostrar isso.

Domingo, 30 de setembro

Apesar do meu irmão me mandar mensagens para tentar me convencer a ir ao culto. Eu não vou.

Eu tenho que ir para Manhattan para pegar meu presente de aniversário que ele me enviou do Brasil e eu decidi sair com a Kay e a Rebeca. Porque, bom, eu as conheço.

Sexta, 5 de outubro

Então, para ir ao evento “Colheita de Maçã" eu tive que trocar minha sexta-feira à noite para ter o sábado, então eu não apareci na igreja novamente. Mas eu recebo mensagens de pessoas perguntando onde eu estava. O que me faz pensar, uau essas pessoas me notaram. Isso é estranho.

(Ei, Carol, do passado, NÃO É ESTRANHO! Você é estranha. Deus estava cuidando de você de uma maneira que você não sabia. Opa, sem spoilers. Desculpe!)

Sábado, 6 de outubro

Dia da Colheita de Maçãs! 

Então eu nem sabia o que era isso. Eu nunca ouvi falar sobre isso antes. Mas eu estou indo mesmo assim. O que as pessoas fazem em Colheitas de Maçã?

Mas de acordo com meu irmão e a Rebeca, este era um bom caminho para se conectar com as pessoas. Eu disse para Rebeca qual fazenda estaria, então talvez ela possa me encontrar lá. (Ela pode, obrigada Rebeca. Eu disse que você é a melhor? Porque se não disse VOCÊ É).

Eu cheguei cedo à igreja, bom não tinha muita gente lá. Katherine vai também então eu posso grudar nela. No caminho para a fazenda no carro nós cantamos, conversamos, rimos, falamos sobre teologia e foi divertido. Isso me faz lembrar dos meus amigos no Brasil, cara eu sinto falta deles.

Quando chegamos à fazenda, aparentemente o que você tem que fazer é colher maçãs. Eu sei, óbvio né?  Então nós colhemos e comemos diferentes tipos de maçãs. Nós falamos sobre quais são boas e quais não são. Me mais confortável para poder conversar com pessoas diferentes. Massa, eu posso falar! Me divirto mais do que me sinto fora do lugar.

Na hora de comer, Katherine se ofereceu para pagar minha comida. Eu não precisava que ela fizesse isso, mas foi totalmente incrível que ela tenha se preocupado comigo.

Eu acho que nós fomos para uma fazenda diferente. Nessa outra eu me senti num desses filmes, porque tinha várias coisas de parque de diversões. Nós brincamos em coisas diferentes. Eu atravessei um labirinto de milho em que eu trapaceio para sair porque eu não consegui encontrar meu caminho de volta.

Eu rio porque eu estou com Katherine, Sami, Chris, Aaron e tirando o Aaron todos os outros ficam impressionados com porcos, galinhas e cavalos, fala sério. Crianças da cidade (vulgo Piás de Prédio).

Isso foi divertido.

Nós nos mudamos de localização novamente.

Estávamos numa casa com piscina agora.

E é aí que eu tive esse sentimento, me senti em casa. Parecia a minha igreja do Brasil. Parecia uma comunidade. Parecia uma família.

Eu sabia que era cedo para dizer. 

Mas ao mesmo tempo que eles me fazem sentir falta da minha igreja porque me lembram dela. Eles me fazem sentir em casa.

Eu tenho esse sentimento que eu nem sabia que precisava. Depois de conversar com todas essas pessoas. Eu nem sabia onde estava, mas parecia que estava em casa. Obrigada Deus por mostrar esse amor e graça para mim.

E bem, se isso não era um sinal para eu ficar, eu não sabia o que era.

Celebramos o aniversário da Maria, cantamos parabéns, eu cantei em português, nós comemos, nos divertimos.

Nós vamos para casa.

Eu cheguei em casa e minha Host Mom me disse que eu pareço feliz. Ela me disse que estava animada para que eu fizesse amigos. Eu digo a ela que estava feliz também.

Ela me perguntou se eu acho que vou ficar nessa igreja. Eu digo a ela que acho que sim.

Mas só para vocês aqui… Alerta de spoiler!!! EU FIQUEI!

É engraçado como você pode falar sobre algo e mesmo assim não entender completamente. Eu conhecia o amor de Deus, mas sendo uma estrangeira, receber tanto amor encheu meu coração.

Lembro-me da palavra de Deus para mim que diz: "Não fique ansioso por nada, mas em todas as situações, pela oração e petição, com ações de graça, apresente seus pedidos a Deus".

Estou assistindo, estou aqui, amo você e estou cuidando de você. Eu não vou deixar você aqui sozinha."

Ele respondeu todas as orações que fiz sobre uma igreja com muito mais do que pedi. Há muito mais na história, mas esta parte termina aqui.

Eu só quero que você que está lendo saiba que Ele é um bom pai. Você pode se sentir sozinho, pode se sentir ansioso, mas não está. O que você tem que fazer sobre isso? Em todas as situações, por meio de oração e petição, com gratidão, apresente seus pedidos a Deus.

Porque Ele está comigo e com você. Se eu puder te dar um conselho é: saiba que Deus é a sua casa e Ele ama você. Então, não tenha medo, você não precisa saber mais sobre o futuro, você precisa saber mais sobre Deus, porque quando você sabe quem anda com você, não importa para onde você vai.