Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que olha a sua face num espelho e, depois de olhar para si mesmo, sai e logo esquece a sua aparência. Mas o homem que observa atentamente a lei perfeita que traz a liberdade, e persevera na prática dessa lei, não esquecendo o que ouviu mas praticando-o, será feliz naquilo que fizer.
Tiago 1:23-25
20 de Abril
Aqui em casa desde que a quarentena começou depois do almoço as crianças tem um “período de silêncio”, que basicamente significa que eles tem que brincar no quarto deles sozinhos por mais ou menos uma hora e meia, dessa maneira todo mundo tem um intervalo para descansar. A regra para o período de silêncio é que você pode fazer o que você quiser, brincar com os seus brinquedos, cantar, ouvir música, ou qualquer coisa. As crianças só não podem usar nenhum tipo de eletrônico ou sair do quarto para brincar. Hoje antes do pedido de silencio começar ao invés de fazer as tarefas da escola como eu pedi o Henry estava brincando no celular. Ele sabe que ele não pode fazer isso, então eu tomei o celular dele. Ele também sabe que se ele se comportar bem de vez em quando ele pode brincar no celular por um certo período. Eu coloquei o celular dele na prateleira mais alta do quarto e não tem como ele pegar o celular a menos que ele escale cinco prateleiras, o que é muito perigoso e eu avisei a ele para não fazer. Ele me pediu o celular de volta e disse que ele iria se comportar. Eu disse que talvez ele poderia ter o celular de volta uma vez que ele fizesse o que eu pedi e depois que eu voltasse da cozinha onde eu estava indo para ajudar a Shayna. Eu não disse que ele não ia ter o celular de volta. Eu não disse que ele perdeu o celular para sempre. Eu disse não no momento porque ele precisava focar em outras coisas. Se ele pudesse ser paciente e fizesse o que ele precisava fazer primeiro ele poderia ter o celular de volta. Eu fui bem clara e ele sabia. Eu fui para cozinha ajudar a Shayna e eu não demorei mais que dez minutos. Quando eu voltei eu fui direto para o quarto do Henry pensando em devolver o celular para ele antes do período de silencio. Quando eu entrei no quarto ele estava comportadíssimo Fazendo o que eu pedi? Não, de jeito nenhum. Ele escalou cinco prateleiras e estava deitado na cama assistindo no celular. Quando ele me viu a primeira coisa que ele me disse foi “O celular é meu, Carol.”e ele tentou segurar o celular bem apertado contra o corpo porque ele sabia que eu ia pega-lo. Eu disse para o Henry que eu ia tomar o celular e ele perdeu o privilégio de tê-lo por um tempo. Ele perdeu porque não me ouviu. Ele começa a gritar e brigar comigo, mas é tarde demais. O celular já está comigo. Ele continua gritando. Eu saio do quarto dele e fecho a porta. A Shayna abre a porta do quarto dela e me pergunta qual é o problema, eu digo a ela que o Henry está encrencado por não ouvir. Ela olha para mim e diz “Nossa, que barulho. Ele precisa parar” O que eu acho engraçado porque normalmente quem vive dando show é a Shayna. Eu posso ouvir o Henry pisando duro no quarto dele enquanto ele grita. Eu também consigo ouvir ele jogar os brinquedos pelo quarto. Eu espero alguns minutos para ver se ele se acalma, mas não acontece. Eu entro no quarto dele de novo e digo que se ele continuar agindo assim de maneira alguma ele vai recuperar o celular. Eu digo para ele que ele precisa se acalmar e se isso não acontecer o celular vai ficar comigo até o fim da semana e ele vai perder outros privilégios. Eu volto para o meu quarto e vou ler a Bíblia e alguns devocionais como eu sempre faço. Eu coloco meus fones de ouvido porque o Henry ainda está fazendo muito barulho. Eu tento me concentrar, mas ele continua com o drama. Na minha cabeça eu não paro de pensar que se ele simplesmente focasse em outra coisa ele poderia ter o que ele quer. Ele simplesmente está tão obcecado pelo celular que ele não consegue ver mais nada. O devocional que eu estava fazendo era chamado Um novo coração e falava sobre a maneira como devemos olhar para as coisas, como deveríamos ver as coisas da maneira que Deus vê mesmo que as circunstâncias não mudem. Ele fala sobre perspectiva. Ele diz que muitas vezes quando temos um problema a gente só consegue olhar para o problema e como devíamos aprender a ver o bom mesmo quando as circunstancias são ruins. Não faz nem dez minutos que eu sai do quarto do Henry e eu consigo ouvi-lo chorar “Carol, Carol, Carol.” Eu tento ignorá-lo por um tempo porque eu realmente acho que ele devia estar fazendo outra coisa. Quando eu não consigo me concentrar mais eu pergunto pro Henry qual é o problema. Ele me diz que está calmo e que ele quer o celular dele de volta. Eu digo a ele que não porque ele não se acalmou. Ele continua gritando e eu digo a ele que ele não vai ter o celular de volta porque ele simplesmente não me ouve. Ele grita mais uma vez. Ele começa a chorar e a implorar. “Por favor Carol, por favor. Por favor.” Eu digo para ele ir fazer outra coisa. Ele me diz que está entediado e não tem mais nada para fazer. Eu faço uma lista de todas as coisas que ele tem no quarto e ele poderia estar fazendo agora. Ele grita de volta porque ele não quer fazer isso. Enquanto eu continuo lendo o devocional sobre se render a Deus e como muitas vezes mesmo quando nos rendemos ainda podemos sofrer, mas isso muda a nossa visão eu ouço o Henry chorar e encostar na porta e ele diz “Por favor Carol, eu não sei mais o que fazer. ” E é aí que eu percebo. E aí que tudo se encaixa. Que tapa. Tem algo que eu queria. Algo que eu queria muito e eu tenho orado por isso há um tempo. Eu tenho orado para Deus me dar fé e que me desse confiança nele e que ele faria um milagre. Eu tenho orado para Deus abrir um caminho, abrir uma porta, para ele fazer alguma coisa já que eu não posso fazer. Eu tenho orado por um milagre e orava para que Deus me respondesse alto e claro. Duas semanas atrás eu senti que Deus me respondeu alto e claro como eu pedi. Entretanto, ele não me respondeu com um milagre como eu estava esperando. Ele disse não. Eu não estava esperando por isso. De jeito nenhum. Eu estava esperando por um milagre. Uma solução. Alguma coisa. Não um não. Eu gostaria de poder dizer que eu recebi a resposta muito bem e disse para Deus sua vontade seja feita assim na Terra como no Céu, mas não foi assim. Eu chorei, eu não quis aceitar. Eu fiquei chateada. Eu fiquei brava. Eu fiquei frustrada. O que eu vou fazer agora? Por que? Por que? Eu pensei que… Por que? Por que isso tá acontecendo? Por que eu não posso ter o que eu quero? Eu chorei. Eu fiquei nervosinha. Eu orei e implorei. Eu orei e disse tudo bem eu vou obedecer, mas eu não estou feliz. Eu vou obedecer, mas não é isso que eu quero. Você está me ouvindo Deus? Eu estava vivendo uma montanha russa emocional nessas últimas semanas para tentar digerir minha frustração até o momento que eu estava sentada no chão do meu quarto ouvindo o Henry enquanto eu fazia o meu devocional eu percebi meu problema de perspectiva. Quando o Henry disse que não sabia o que fazer. Eu percebi. Eu me vi no espelho. Eu era o Henry. O Henry devia ter confiado que eu não estava o privando de coisas boas. Ele só precisava esperar para ter o melhor depois. Eu era o Henry. Eu sou o Henry. Quando algo que eu queria me foi tomado eu fiquei cega. Eu simplesmente não vi nada além da minha frustração. Eu não conseguia focar. Eu pisei duro, gritei, chorei, implorei, fiquei brava, tentei me acalmar, chorei mais, neguei que estava acontecendo, tentei lidar com os meus sentimentos, chorei um pouco mais até que então sentada no chão do meu quarto enquanto eu pensava que o Henry simplesmente não conseguia ver outra coisa, eu me vi. Eu vi onde estava meu coração. Eu simplesmente não consegui me focar em mais nada. Assim como o Henry que estava chorando por causa de um telefone e não podia ver as outras três mil coisas que ele tinha no quarto para brincar. Eu só estava vendo aquilo que eu não posso ter e mais nada, mais nada que Deus está fazendo fez e vai fazer. Eu realmente senti como um tapa. Cuidar dessas crianças sempre me faz ter uma perspectiva de Deus, porque tantas vezes eles brigam comigo por coisas que eu sei que não são boas para eles e eu faço o mesmo com Deus. Sentada no chão eu penso que Deus estava me olhando do mesmo jeito que eu estava olhando para o Henry. Eu podia ver o todo, o Henry não. Deus pode ver a minha situação toda, eu não. A Rebeca me disse que Deus é muito mais misericordioso do que eu, então Ele provavelmente estava me olhando com mais misericórdia do que eu esperava. Entretanto, a mensagem para mim foi clara. “Carol, você precisa olhar para o todo. Para o plano maior. ” Eu preciso parar de ser mimada. Eu não sei tudo e mesmo que eu estivesse fazendo a coisa certa eu tive um coração rebelde. Eu vi a mim mesma como um garoto de sete anos que perdeu seu brinquedo. E por mais que eu queria dizer que eu ajo melhor do que isso, eu não ajo. Hoje Eu não sei se algo parecido já aconteceu com você. Eu acredito que sim. Porque né, estamos em quarentena. Eu aposto que você já teve que desistir de algo durante esse tempo ou alguma vez na vida. Como você reagiu? Como você reage quando as situações não saem como você imaginava ou esperava? Você confia que não importa o que está acontecendo Deus é bom? Você confia que mesmo quando você não tem o que quer Deus sabe o que é melhor para você? Você está em paz quando parece que todo mundo está conquistando seus objetivos e você ainda está lutando para chegar no lugar que você quer? Eu sei que a maioria de vocês não reage como o Henry e eu, que choramos e imploramos, mas talvez você comece a focar na coisa errada. Você talvez comece a fazer as perguntas erradas como: Por que eu? Por que agora? Por que não? Você para de orar ou você para de ler a Bíblia ou você simplesmente para de procurar ajuda. Talvez nada disso, talvez você simplesmente se ressinta. Você sabe qual é o nosso problema? Nossa visão. Nós nos focamos demais em nós e pouco no Reino. A gente quer o que a gente quer e se possível agora. Eu não sei você, mas a quarentena me mostrou como eu não tenho controle sobre nada. É difícil ver nossos planos irem pelo ralo. É difícil ver coisas que nós queríamos por tanto tempo serem atrasadas. É difícil ter que ouvir pessoas dizendo o que podemos fazer ou deixar de fazer. Porém, a maneira como olhamos a situação vai determinar como nós nos comportamos. O Corona Vírus cancelou viagens, casamentos, aniversários, shows, festas, sonhos. Todavia, Deus não foi cancelado. Ele não está surpreso. Ele sabia, Ele sabe e Ele sempre saberá o que é melhor para nós. Então, por que nós não começamos a nos perguntar as perguntas certas? Uma vez eu li que a pergunta “Por que eu? ” deveria ser feita nos dias felizes mais do que nos dias tristes. Nós temos uma perspectiva tão pequena que nós nos perdemos no que queremos e não vemos o que Deus quer fazer. Por que a gente não pergunta “Deus, como o Senhor vai me usar? ’ “Deus, como o Senhor vai usar essa dor? ” Por que não perguntamos como podemos ser mais úteis para o Reino ao invés de só perguntar por que as coisas não deram certo? É sobre como olhamos para as coisas. É sobre como nós olhamos para Deus. Ele nunca falha. Ele não está falhando agora. Ele tem um propósito e um plano maior que mesmo que nós não possamos ver podemos confiar. Deus vê o começo e o fim. Ele entende nossas circunstâncias. Ele nos ama. Ele é misericordioso e nós temos uma escolha. Nós temos a escolha de crescer em amargura, frustração e chateação ou podemos ver as coisas como Ele vê. Ver que o nosso maior problema não é agora, não é o COVID-19 ou qualquer outra coisa que esteja acontecendo com você. Nosso maior problema é estarmos longe de Deus. É não ter um relacionamento com Deus. Problemas do nosso coração. E se as circunstâncias nunca mudarem você mudaria a maneira que olha para elas? Uma das minhas histórias favoritas da Bíblia é quando Pedro anda sobre as águas. Vamos dar uma olhada nessa história por um minuto. Alta madrugada, Jesus dirigiu-se a eles, andando sobre o mar. Quando o viram andando sobre o mar, ficaram aterrorizados e disseram: "É um fantasma! " E gritaram de medo. Mas Jesus imediatamente lhes disse: "Coragem! Sou eu. Não tenham medo! " "Senhor", disse Pedro, "se és tu, manda-me ir ao teu encontro por sobre as águas". "Venha", respondeu ele. Então Pedro saiu do barco, andou sobre a água e foi na direção de Jesus. Mas, quando reparou no vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: "Senhor, salva-me! " Imediatamente Jesus estendeu a mão e o segurou. E disse: "Homem de pequena fé, porque você duvidou? "Quando entraram no barco, o vento cessou. Então os que estavam no barco o adoraram, dizendo: "Verdadeiramente tu és o Filho de Deus". Mateus 14:25-33 Quando Pedro tinha seus olhos no Senhor ele andou sobre as águas. ELE ANDOU SOBRE AS ÁGUAS. Você entende isso? Ele andou sobre as águas. Eu aposto que o vento já estava lá quando Pedro saiu do barco, mas ele tinha os olhos em Cristo e ele tinha fé. Então ele andou sobre as águas, as circunstâncias não importavam porque ele tinha os olhos no Senhor. Entretanto, quando Pedro perde o foco ele começa a afundar. Você vê? Eu sei que provavelmente não andaremos literalmente sobre as águas, mas a lição é a mesma. Haverá ondas no mar, ventania. A vida ficará difícil, você será decepcionado, as coisas vão ficar difíceis e vão mudar, mas se você mantiver os olhos em Jesus você pode andar sobre as águas. Deus e o Henry me lembraram de algo. Eles me lembraram de manter meus olhos em Deus. De olhar menos para mim mesma e o que eu preciso porque Deus sabe o que eu preciso e Ele me dará essas coisas no tempo certo. Eles me lembraram que Deus não nos salvou para simplesmente nos levar embora ou para nos dar uma vida confortável sem problemas. Ele nos salvou para nos usar. Que tal se a gente começar a olhar a vida assim? Que tal a gente perguntar para Deus como Ele pode nos usar ao invés de perguntar como Ele pode fazer a coisa que eu quero acontecer? Talvez as suas circunstâncias ou a minha não mudem, mas Ele nos mudará e não existe nada melhor que isso. Não existe nada melhor que estar nas mãos do Pai. Um Pai que nos ama, nos redime e sabe o que é melhor para nós mesmo quando não podemos ver. A verdade é que sempre vamos refletir algo, minha oração é que ao me olhar no espelho eu veja menos a mim e mais de Cristo.
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