O ano antes de eu mudar para os EUA foi um dos anos mais difíceis da minha vida. Eu senti como se Deus estivesse tirando tudo de mim. Eu senti como se tudo que eu valorizava de demais tivesse sido tomado. Eu fiquei sem esperança para o futuro. Como vocês sabem, tem a história mais detalhada disse no post chamado “California”, mas para resumir, no ano antes de eu vir eu orei para que Deus me ensinasse a amá-lo mais que qualquer outra coisa. Deus, em Sua grande sabedoria, teve que mexer em várias coisas muito importantes para mim, para que eu entendesse que meu coração não estava nEle. Naquele ano, eu perdi alguns amigos e me senti muito machucada. Meu irmão teve que se mudar, e isso também mexeu comigo. Minha mãe teve um infarto, e eu achei que ela fosse morrer. Meu pai ficou no hospital, meu cachorro de 11 anos morreu, e ai depois meu avô morreu. Foi muita coisa acontecendo num ano só, e eu realmente pensei que não tinha mais o que perder. (Ai coitada, olha o drama.)
Por essa razão eu decidi viajar para os EUA. Eu já sonhava com isso antes, e depois deixei o sonho de lado. Eu estava confortável demais, e então Deus teve que me chacoalhar. Ele me fez sair do lugar literalmente. Eu posso ver o Seu plano mais claramente agora, de uma maneira que eu não conseguia quando eu estava lidando com muitas coisas.
O milagre do Brooklyn é sobre Deus me trazendo para um lugar que eu não queria vir, para que eu O entendesse melhor, O amasse mais e O ouvisse em alto e bom som.
Agosto 2017
O João e a Thais finalmente me convenceram que o programa de Au Pair era uma boa ideia. Que eu não tenho nada para perder mesmo. Eles tem certeza que essa experiencia vai ser ótima para mim, e se não for eu posso sempre voltar para casa.
Eu acho que eles estão certos.
Eu estava feliz com o meu trabalho de professora, mas parte de mim queria mais da vida. Eu queria ver lugares diferentes. Eu tava cansada de Tupã, então eu podia sair um pouquinho.
O João e a Thais logo iriam embora.
Eu não contei para os meus amigos que eu realmente ia fazer o intercambio. Todo mundo sabia que eu queria ir para os EUA um dia, mas eu sempre disse “um dia” a minha vida toda, então acho que sempre pareceu uma ideia distante.
Thais, João e eu fomos para Presidente Prudente, porque na minha busca por agências que realizam o programa de Au Pair a empresa em Presidente Prudente tinha boas referências. E pelo o que eu já tinha aprendido nas minhas pesquisas, não tem nenhuma agência que seja 100% segura. A internet está cheia de experiências maravilhosas e terríveis. Então você tem que tentar e ver.
Nós falamos sobre o futuro no caminho, e eu imaginava como a vida podia ser se eu realmente fosse.
O cara que conversou com a gente na agência foi muito convincente, e todo mundo gostou muito da ideia e do custo do programa. O João e a Thais acharam que eu devia fechar com eles.
Eu disse que queria pesquisar um pouco mais, antes de fechar mesmo o negócio.
Tudo isso aconteceu numa quinta-feira, e minha mãe teve um infarto no sábado seguinte.
A ideia do programa de Au Pair ficou um pouco abandonada, para que focássemos na minha mãe, que era só o que importava naquele momento.
Setembro 2017
Minha mãe está em casa agora, e o pior já passou. Ela sobreviveu e está se recuperando. Eu estava muito feliz.
O João estava viajando e visitando igrejas.
Um dia ele me liga sei lá de onde e me diz: “Carol, não desista do programa de Au Pair. Liga na agência. Faça o pagamento e vá. Nossos pais vão ficar bem. Por favor ligue para eles.”
Sinceramente eu não queria ligar não. Eu tava animada antes, mas o último mês foi bem difícil. Entretanto, eu disse pro João que eu ia ligar, então eu tinha que ligar porque não queria mentir pro meu irmão.
Eu falei com a minha mãe, e nós pagamos pelo programa naquela semana mesmo. E a partir dali eu coloquei na minha cabeça que desistir não era uma opção, mesmo se eu tivesse medo.
Outubro/Novembro 2017
O João vai para Santos, nós sabemos agora. A gente não está mais se perguntando onde ele vai parar.
Eu finalmente disse pro meu chefe que eu ia fazer o programa de intercâmbio. Eu falei com meu chefe antes de falar para os meu amigos.
Quando contei para Bárbara, ela ficou bem surpresa que eu realmente estava falando sério sobre ir.
Dezembro 2017
A noticia se espalhou. Todo mundo já sabe que eu vou para os EUA. Não tem mais volta agora. Eu fiz a entrevista na agência, e tudo tem cooperado até agora.
Janeiro 2018
Eu fui para Santos ajudar meu irmão com a mudança. Ao mesmo tempo, eu estava lidando com as coisas que eu precisava entregar para a agência para o intercâmbio dar certo.
Eu conversei com a minha cunhada sobre como eu queria ir para California, mesmo que no programa de Au Pair você não escolhe realmente o lugar que você vai. Existem famílias de todos os lugares, então você pode parar em qualquer lugar dentro dos EUA.
Ela me disse para orar, e se fosse da vontade de Deus Ele me mandaria para a Califórnia.
Fevereiro 2018
Quando me demiti, eu realmente achei que em Abril eu já estaria nos EUA, mas pelo jeito que as coisas andavam em fevereiro, essa possibilidade parecia bem distante.
Para se tornar Au Pair você passa por um processo de “Match”, que basicamente significa uma familia te escolher, e você escolher a familia. Demorou alguns meses para eu ter famílias interessadas no meu perfil.
Março 2018
Nada ainda.
Abril 2018
Eba, tem uma familia no meu perfil.
Deixa eu ver de onde.
Easton, Connecticut.
7.000 pessoas moram lá.
Eles tem uma igreja Batista.
Eles não tem carro para a Au Pair, então não é muito legal.
Entretanto, eu senti que não era lá. Era muito pequeno. Parecia uma cidade de gente velha. Eu pensei comigo mesma que ia morrer sozinha e sem amigos lá.
Eba, outra familia no meu perfil.
Manhattan, Nova Iorque.
Credo.
Nova Iorque.
Eu não quero morar nessa cidade. Eu li o perfil da família e senti que ainda não era isso.
Eu comecei a ficar cada vez mais preocupada, porque os meses estavam se passando. Já era abril. E eu não tinha gostado das famílias no meu perfil. O que ia acontecer?
Eu orei porque já estava ficando muito nervosa com isso.
Eu disse para Deus que eu pararia de me preocupar com isso. E eu ia descansar. Quando fosse minha hora de ir, Deus ia me mostrar. Eu estava passando tempo demais me preocupando com isso, e eu precisava descansar que Deus estava cuidando disso.
A próxima família que entrar no meu perfil eu vou esperar para ver se é o que o Senhor quer. Da Califórnia, ou qualquer outro lugar.
A próxima familia que entra no meu perfil…
Brooklyn, Nova Iorque.
Ah que bom, outra familia de Nova Iorque.
Eles queriam uma entrevista comigo. Eu não queria ir pro Brooklyn, mas valia a tentativa né. Eu nem sabia muita coisa de Nova Iorque.
A primeira entrevista foi bem legal. Eu gostei da mãe, e gostei das regras dela.
Nas minhas pesquisas sobre o programa, todas as meninas diziam que deveríamos escolher uma família, e não um lugar, então talvez eu pudesse ir para o Brooklyn se a familia fosse legal.
Ela pediu que eu fizesse outra entrevista com o marido dela, e essa entrevista foi ainda mais tranquila, porque eu já não estava tão nervosa. Eu gostei da familia e então eu orei.
“Hey Deus. É essa familia aqui? Você só queria que eu descansasse?”
Depois das entrevistas, eu viajei para Santos para passar o aniversário do meu irmão com ele, e a familia pediu para fazer mais uma entrevista.
Todo mundo a minha volta achava a ideia de Nova Iorque o máximo, e talvez eles estivessem certos e Nova Iorque fosse ótimo.
A terceira entrevista foi super curta. Eles fizeram pouquíssimas perguntas e eu fiz mais uma, eu acho. Nós desligamos, e eu saí para jantar com a minha família. Todo mundo estava animado com a ideia de eu ir para Nova Iorque. Eu gostei da familia, mas sei lá, eu nunca sonhei com Nova Iorque. Em todos os meus sonhos nos EUA, eu estava na Califórnia.
Eu orei e perguntei para Deus: “Deus, é para esse lugar que o Senhor quer que eu vá?”
No dia seguinte, a família pede para fechar comigo.
Eu ia dizer sim? Não sei.
Nova Iorque? Eu iria morrer em metrôs e loucura.
Eu falei com a minha mãe e ela me disse “Carol, se a familia parece legal, eu acho que você devia se basear nisso. Mas no final das contas a escolha é sua.”
Meu irmão estava bem animado com a ideia. Ele tava tipo “Carol, é Nova Iorque! Você vai estar no coração do mundo, todo mundo quer ir para lá.”
A gente pesquisou a area que eu supostamente moraria, e eu não tinha 100% de certeza, mas senti que era a escolha certa. Eu estava em paz com a escolha. Eu pedi para Deus me mandar uma família, e Ele o fez.
Não é na Califórnia, mas eu sabia desde o começo que esse era um risco.
Maio 2018
Todo mundo tava bem animado que eu iria para Nova Iorque.
Eu? Eu nem pesquisei nada sobre a cidade. Eu procurei igrejas na vizinhança que eu moraria, e foi isso.
Eu estava com medo.
Os meses se passaram até minha data de embarque.
Agosto 2018
Eu realmente ia me mudar para o Brooklyn.
E eu nem sabia o que tinha no Brooklyn.
Eu esperava não morrer.
E se você tiver se perguntando porque eu não pesquisei nada, foi simplesmente pelo fato que eu tinha medo de pesquisar, não gostar, e desistir.
A primeira semana em Manhattan foi horrível, eu achei que ia morrer. Era demais, e muito lotado. Eu achei que eu ia voltar para casa chorando. E quando eu finalmente cheguei no Brooklyn, no primeiro mês eu me senti muito sozinha, e a cidade era muito barulhenta. Era tanta informação! Eu odiava estar aqui, e parte de mim começou a questionar a minha decisão. Porém, isso só durou um mês. A vida no Brooklyn foi melhor que a minha imaginação na Califórnia. Tantos sonhos realizados. Tantas coisas Deus fez por mim.
Janeiro 2020
Por que o Brooklyn é um milagre?
Eu lutei com muitas coisas antes de vir. Eu não entendia porque as coisas estavam acontecendo na minha vida. Eu achava que os meus sonhos não iriam se realizar. Eu estava sem esperança.
O Brooklyn nunca foi meu sonho. Entretanto, se um dia eu deixar este lugar, ele sempre será um memorial de tudo o que Deus fez por mim. E de tudo o que Deus falou comigo aqui.
O Brooklyn é um milagre porque eu senti amor. O amor de Deus, e de tantas pessoas que Ele trouxe para minha vida.
O Brooklyn é um milagre porque eu precisava que alguém me tirasse de onde eu estava. Eu precisava estar sozinha para entender que, quando eu não tenho nada, eu tenho Deus, e Ele é tudo que eu preciso.
Eu vi Deus em pequenas coisas, em borboletas que voaram para minha mão, eu vi Deus escolher uma igreja para mim, eu vi Deus me tirar de situações difíceis. Deus realizou todos os desejos da minha lista, e muito mais. Deus trabalhou em detalhes, mesmo quando a vida no Brooklyn ficou difícil. (Sim gente, a vida no intercambio não são só flores.) A minha confiança em Deus cresceu, porque eu vi tudo o que Ele fez por mim.
Deus falou comigo aqui, e ainda fala.
Eu sou muito grata por essa temporada no Brooklyn.
Eu estava perdida, e Ele me encontrou aqui.
Ele me ensinou com graça e com sofrimento.
Ele sempre esteve aqui comigo.
Eu não sou a pessoa que eu era há dois anos atrás, e este é o mais incrível milagre para mim. Deus continua a me renovar.
Eu não queria vir para o Brooklyn, mas eu aprendi que algumas vezes eu não quero o que é melhor para mim. Eu tenho aprendido a querer o que Dues quer para mim, e Ele me queria aqui. Eu sou muito grata por tudo o que eu vivi aqui.
Eu posso ver agora o propósito de Deus em todas as coisas que eu passei, mas quando eu não podia ver a razão, eu podia ver Deus, e então entendi que Ele é a única coisa que eu precisa ver.
Sinceramente, até respirar agora é um milagre, e muitas vezes nós não damos valor a isso.
O Brooklyn foi meu milagre, e eu deixei a minha vida no Brasil para achar o propósito que Deus tinha para mim aqui.
As vezes nós nos assustamos por causa das circunstancias, porque nós não estamos olhando para o plano maior. Deus está.
E de vez em quando, Deus tem que quebrar coisas para que Ele possa construir melhor, e isso, isso é um milagre.
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