Já faz duas semanas que estou morando no Brooklyn.
Minhas crianças (eu chamo eles assim) ainda não têm escola porque estão de férias.
E como esta é apenas a minha segunda semana morando com eles, eles também não são meus maiores fãs. Eles sentem falta da antiga babá.
E eu entendo totalmente. Desde que eu cheguei aqui as regras mudaram.
Não tem mais tv durante o dia, eles não podem mais comer doces a não ser na hora da sobremesa. Eu sigo todas as regras que eles odeiam e acabei de chegar, então é normal. Mas também é difícil para mim. Eu deixei tudo. Estou morando com uma nova família e as crianças ainda não se adaptaram comigo. É difícil. Fora que eu não gostei da comida aqui, então eu tenho comido muito pouco. Já perdi peso e todas as minhas roupas estão largas. Eu não conheci ninguém além da minha Host Family e as outras au pairs da semana de treinamento. Me sinto sozinha.
Hoje é outro dia em que eu tenho que inventar uma atividade para passar o dia todo com as crianças. Eu tenho jogado tantas rodadas de policia e ladrão que eu não sei o quanto mais eu aguento. Eu estou tão cansada! Os pais me disseram hoje que eu deveria levar as crianças para a piscina do Sunset Park, mesmo que não seja uma piscina infantil. Eles acham que as crianças vão gostar e que vai ser divertido. Eu não gostei muito dessa ideia desde o começo. Eu já vi essas crianças na piscina e eles não sabem nadar então ficam grudados nos adultos. E eu sou apenas uma e eles são dois, mas segundo os pais eu vou tirar de letra. Eu considero a ideia porque talvez seja uma maneira deles gostarem mais de mim já que a outra babá odiava a piscina.
Eu pergunto pro pai das crianças o que eu preciso levar para a piscina e ele diz que só preciso de toalhas que eles não vão pedir mais nada, porque é uma piscina pública. Ele me garante mais de uma vez que só preciso de toalhas e roupas de nadar para as crianças.
Tá super calor hoje então eu pego tudo que eu supostamente vou precisar e saio de casa rumo a piscina com as crianças. A piscina não é muito longe de casa, então não é uma longa caminhada, porém, mesmo andando de patinete as crianças reclamam o caminho todo. Eles gritam que tá muito calor. Eles gritam que a piscina é muito longe. Eles gritam que não gostam de mim. Eu sei que isso não é totalmente verdade mas caramba é difícil de ouvir. Essas duas primeiras semanas estão me matando, eu não sei quanto tempo mais eu vou aguentar fazer isso. Eu passo o caminho todo orando porque eu ando muito triste e essa situação só piora tudo. Eu oro para que quando chegarmos na piscina as coisas melhorem.
Quando finalmente chegamos a piscina há uma fila para entrar e até ai tudo bem. Mas quando chega a nossa vez a mulher responsável por liberar as entradas na piscina diz que eu só posso entrar se tiver um cadeado para colocar as coisas das crianças em um dos armários. Eu não tenho um cadeado. O pai não me disse nada sobre isso. Então a mulher me manda ir para casa.
As crianças começam a gritar comigo mais uma vez. Eles estão gritando que querem entrar na piscina. Eles começam a dar show e jogar coisas no chão. Eu nem trouxe dinheiro comigo para comprar um cadeado. Eu não conheço o bairro ainda, nem sei para onde ir. Minha única opção agora seria ir para casa, mas as crianças não querem ir para casa, eles gritam, choram e se recusam a andar. E eu? Eu estou prestes a chorar. Eu não sei o que fazer, estou perdida. De novo.
Eu oro de novo, eu nem sei o que pedir. Eu simplesmente olho pro céu e peço ajuda enquanto eu tento não chorar. Digo mais uma vez, Deus me ajuda porque eu não sei o que fazer, me ajuda. Eu não quero chorar, me ajuda. As crianças continuam gritando comigo e eu as chamo pra sentar em um banco comigo para que eu tenha tempo para pensar no que fazer.
E é aí que meu milagre acontece…
Uma mulher se aproxima de mim e pergunta o que tá acontecendo. Eu digo que trouxe as crianças para piscina, mas que eles não me deixaram entrar porque eu não tenho um cadeado para usar nos armários. Então ela me diz onde comprar um cadeado e eu digo para ela que não adianta porque eu não trouxe dinheiro nenhum. Ela me pergunta se eu sou nova em Nova Iorque e de onde eu sou. Eu digo que acabei de chegar do Brasil há três semanas. Então ela olha para mim e diz: ‘Eu conheço o pessoal que trabalha na piscina vou tentar falar com eles por você. Talvez, porque eles me conheçam eles te deixem entrar.”
Eu nem tenho palavras, nem como agradecer. Ela me diz que tá tudo bem e tudo vai ficar bem.
Enquanto ela está conversando com a pessoa responsável, eu oro mais uma vez para que as coisas deem certo porque as crianças ainda não se acalmaram. Quando ela volta e me diz que infelizmente não tem jeito, eles não me deixarão entrar sem um cadeado. Eu quero chorar de novo, mas eu digo para ela que está tudo bem, que eu estava muito feliz por ela ter tentando. Ela me responde que não foi problema nenhum.
Eu olho pro céu mais uma vez e digo: ‘Me ajuda"
Ela que estava indo embora volta e diz; “Sabe de uma coisa? Fica aqui, vou comprar um cadeado para você.”
Eu começo a agradecer e peço o número dela para que eu possa pagá-la de volta. Ela só me diz mais uma vez para eu ficar lá que ela voltará logo.
Eu seguro minhas lágrimas e as crianças estão um pouco mais calmas agora que eles ouviram que há uma chance de irmos para a piscina.
Quando ela volta e me entrega o cadeado, ela se ajoelha e olha nos olhos das crianças e diz; “Crianças, me escutem com atenção, vocês vão entrar nessa piscina hoje por causa da maravilhosa babá de vocês. Vocês são muito sortudos de ter ela como babá. Vocês não sabem disso ainda mas vocês precisam valoriza-la mais. Quero que vocês dois peçam desculpa para ela e agradeçam a ela por esta oportunidade.”
As duas crianças olham para mim e dizem que sentem muito. Agora eu estou chorando porque não tem mais como segurar. A mulher olha para mim e diz: “Vai ficar tudo bem Carol.” Então ela me abraça. Eu pergunto para ela se ela acredita em Deus porque eu orei e ela apareceu para mim como um milagre. Ela me diz que ela acredita em ajudar as pessoas e essa é a sua religião. Eu ainda estou chorando e agradecendo a ela porque eu não posso acreditar no que acabou de acontecer. Ela me olha nos olhos e me diz que tudo vai ficar bem em pouco tempo.
Agradeço a ela mais uma vez e ela me diz que precisa ir embora. As crianças agora estão calmas e prontas para entrar na piscina. Eu olho para o céu em meio as lágrimas e digo “Obrigada". Eu não estou sozinha. Eu sinto Deus me dizer “Ei, Carol, eu estou vendo. Você não está sozinha. Eu não vou te deixar aqui sem ajuda. Confia em mim.” E eu confio nEle.
Eu nunca mais vi a mulher que me deu o cadeado.
Talvez essa pareça uma história boba ou pequena, mas o que Deus falou comigo neste dia eu nunca vou esquecer. Ele me deu um cadeado milagroso bem na frente dos meus olhos. Eu estava me sentido sozinha, perdida e sem ajuda. Mas Ele trouxe alguém do nada para me ajudar.
Ele trabalhou em todos os detalhes para me dizer que eu não estava sozinha.
Ele usou essa situação para me dizer que Ele estava me vendo e que cuida de mim.
Eu estou muito longe de casa é verdade, mas não há lugar nesse mundo que Deus não possa me encontrar. Ele ouve, Ele me ouviu chamar. Bem ali no meio do parque quando eu nem sabia o que pedir. Eu só pedi ajuda e Ele me deu.
As vezes ficamos desesperados porque não sabemos o que fazer e nos esforçamos tanto para fazer as coisas do nosso jeito. Naquele dia, aprendi que a única coisa de que eu precisava era pedir e confiar. Ele apareceu e Ele está aqui o tempo todo. Ele nunca some. E se acreditamos que Ele é conosco o tempo todo, por que nos preocupamos tanto e descansamos tão pouco? Por que lutamos tanto sozinhos ao invés de orar? Por que reclamamos tanto ao invés de agradecer? Ele está aqui, sabe? Ele está nos vendo o tempo todo. A gente esquece, Ele não.
Se você não sabe o que pedir em um momento de desespero, apenas peça ajuda e confie que o Rei do Universo, te ama tanto, que Ele conhece o seu coração e sabe o que você precisa e sabe o momento certo em que precisa.
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