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Foto do escritorAna Carolina Urel

Tradução

Quando eu tinha 9 anos minha mãe me colocou para fazer aulas de inglês.

Apesar de não ter recursos abundantes ela sempre disse para mim e para o meu irmão que falar inglês seria importante para o nosso futuro. Antes de eu de fato começar a fazer as aulas eu até gostava da ideia de aprender inglês, bom na verdade eu me animava com a ideia de ir para escola de inglês que meu irmão já frequentava e dizia gostar. Não sei se era mais uma das pegadinhas dele ou se ele realmente gostava, mas fato é que eu odiava as aulas de inglês. Me lembro que por cinco anos era uma tortura para mim, as vezes eu torcia para ficar doente e não precisar ir na aula de inglês de tanto que eu não gostava, mas minha mãe nunca cedeu.


Ela sempre dizia que um dia eu ia agradecer e que era importante para o meu futuro. Nessa idade eu achava que falar espanhol era muito mais legal e queria mesmo é morar no México, mas só porque eu era fã de rebelde.

Sei que por muitos anos eu frequentei as aulas de inglês porque não tinha outra opção, passava de nível só com a porcentagem necessária e reclamava muito de tudo que tinha a ver com o inglês. E então em certo momento da minha vida tudo mudou, uma igreja na minha cidade recebeu um grupo de missionários americanos e precisavam de ajuda para traduzi-lós durante a missão deles lá.


Eu e mais duas adolescentes da minha igreja fomos ajudar e na época o que me apareceu a coisa mais incrível aconteceu. Apesar de ir obrigada as aulas e achar que eu não falava nada, eu falava inglês, não só falava inglês como entendia inglês e conseguia traduzir os missionários que só falavam inglês. E por alguma razão naquela época a minha visão sobre o inglês mudou. Era algo muito mais legal. Eu também tinha mudado de escola de inglês o que eu acho que ajudou. E as novelas mexicanas que eu assistia se transformaram em séries do Disney Channel e depois mais tarde na faculdade vários tipos de séries americanas.


Essa experiência com tradução mudou tanto a minha maneira de ver o inglês que na época até determinou a minha escolha de faculdade e grande parte dos meus sonhos. Cresceu a vontade de fazer intercâmbio e grande parte de mim queria trabalhar com tradução. Porém, durante a faculdade comecei a duvidar se tradução era mesmo aquilo que eu queria, na verdade durante a faculdade mudei de ideia muitas vezes, sobre tudo e sobre a vida. Naquela época queria muito fazer intercâmbio, mas não tinha dinheiro também. No final da faculdade o que eu queria mesmo era só voltar para casa, acho que me convenci que alguns dos meus sonhos só tinham sido um surto meu. Daí não abandonei o inglês totalmente, virei professora de inglês e eu gostava muito. O inglês era algo que eu gostando ou não fazia parte da minha vida desde muito cedo.


E então durante meu tempo como professora de inglês Deus reacendeu meu sonho de intercâmbio e me disse que aquela era a hora de ir.

E eu fui, quem tá aqui faz tempo e me conhece sabe que o intercâmbio foi uma das melhores experiências que já vivi, o inglês não era só parte da minha vida eu falava inglês 24 horas por dia. E foi muito legal fiz amigos de lugares diferentes e casei com o Chris que até então não falava nadinha de português, nosso relacionamento todo era em inglês. Muita coisa mudou sobre a minha visão de inglês, mas a tradução era algo que fazia muito tempo que estava escondida. Tirando um resumo ou outro que alguém pedia para eu dar uma olhada, minha vida ou era toda em inglês ou toda em português.


Quando fomos morar no Brasil durante muito tempo eu tive que agir meio que como a tradutora particular do Chris e era bom e ruim. Porque ao mesmo tempo queria que ele mesmo aprendesse português.

Quando voltamos para os Estados Unidos era tudo em inglês e português era só quando eu falava no telefone com alguém no Brasil. Diferentemente da primeira vez que morei nos Estados Unidos isso começou a me incomodar não queria que a minha versão em português fosse algo tão limitado, vamos dizer assim. Mas a vida continuou e então uma oportunidade muito legal surgiu, um sonho antigo foi trazido de volta e eu traduzi um livro apesar da insegurança de achar que não conseguia Deus me deu a oportunidade de tentar e outras pessoas para ajudar na versão final.


As vezes ainda não consigo acreditar que existe um livro por aí que na frente da palavra tradução tem meu nome. É incrível para mim.

Os meses se passaram e o Chris me ouvia reclamar que estava com muita saudade de ter amigos brasileiros, saudade de estar perto do “meu povo” e então Deus ouviu minhas orações sobre o assunto e colocou dois brasileiros no meio do caminho do Chris que naquele dia falou português como nunca e isso nos trouxe para o presente momento e porque eu decidi escrever esse texto.


Aqueles dois brasileiros no caminho do Chris faziam parte de uma igreja brasileira no Queens e nos convidaram para conhece-lá. A igreja era toda em português e mesmo que o Chris não entendesse grande parte ele se interessou muito em participar de lá por mim. Então continuamos visitando e frequentando a igreja. E nas conversas com aquele casal que o Chris conheceu, a Ingrid e o Alexandre, eles me falaram da vontade de investir mais na tradução dos cultos da igreja para o inglês e aquele gosto que sempre tive para tradução falou ei se precisarem de mim eu quero ajudar!


Bom, agora tudo isso já tem uns meses, mas esses dias eu ouvi uma pregação em que o pastor usava uma ilustração para dizer que o Hebraico se lê de trás para frente e as vezes a vida faz mais sentido quando olhamos de trás para frente. Hoje tendo o privilégio de participar do ministério de tradução da igreja e olhando de trás para frente, faz todo o sentido. Deus é muito bom e o tempo dele também. Apesar de muitas vezes batalhar por ter que esperar o tempo dele, olhando de trás para frente sou muito grata pelo que ele me ensinou em tudo até aqui. E também por hoje poder servir em algo que Ele me ensinou a gostar muitos anos atrás.

E eu sou grata a Deus por poder participar da família da Brazilian Missionary Church.




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